
Soraia era mãe de dez filhos. Três meninos e sete meninas. Uma mulher exemplar; dona de casa e esposa dedicada. Entretanto, nenhum vestígio de sorriso em seus lábios.
Guardava no oratório, entre a bíblia e as receitas de bolo, as revistas de moda. Mas não eram os modelitos que lhe chamavam a atenção. E sim, as modelos. As garotas de revista. Queria ser uma delas.
Seus longos cabelos negros, nunca antes pintados, eram sedosos como favo. A pele clara transparecia a origem aristocrata. Sua cútis era tão macia quanto um pêssego.
Na frente do espelho, passando batom, lembrava nostálgica do tempo em que sua cintura fora tão delineada quanto à de Martha Rocha. Ao levantar-se, o reflexo do mesmo recusava esconder a maternidade.
Não havia tempo para lamentação. Entrou na carroça e ajeitou o coque bem firmado em sua nuca. No estúdio fotográfico, preparou sua melhor pose. De perfil: lábios cirrados , ombros eretos e olhar ao léu.
Um clique. A foto fica pronta. A revelação, perfeita. Mas a imagem da moça nunca foi publicada pela imprensa. Foi para o álbum da família. Registrou um sonho interrompido.
Crônica
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