sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Sustentabilidade econômica tem de ser prioridade na Amazônia

Artigo



A máxima“a Amazônia é o pulmão do mundo” é amplamente declamada por ambientalistas, ecologistas e pela sociedade em geral como uma tentativa de mostrar o interesse pela causa ambiental que a floresta reserva. Entretanto, mais do que cuidar do pulmão metafórico e verde que o mundo vê como a salvação para as depredações irreversíveis que já foram feitas àa terra, é preciso olhar para as pessoas que lá vivem.
Manaus, capital do Amazonas - estado que ainda preserva boa parte da sua floresta- cresceu nos últimos 20 anos numa taxa populacional acima da média brasileira. Atualmente, com mais de dois milhões de habitantes, muitos migrantes do Sul e Nordeste, a metrópole sofre com os problemas de habitação, saneamento básico e planejamento viário. Cerca de 80% dos empregados trabalham na indústria, fundamentada na Zona Franca de Manaus. Esse pólo foi criado como uma tentativa de esquentar a economia brasileira e seguindo a política militar da década de 70 de “integrar para não entregar” a Amazônia à responsabilidade internacional. A ZF trouxe à Manaus um parque de multinacionais atraídas pela isenção de impostos. Hoje, as essas mesmas multinacionais dão emprego a toda a região, e produzem para todo o mundo inteiro.
Diferente do que o governo insiste em dizer sobre “a estabilidade da economia brasileira perante a crise”, os trabalhadores da Zona Franca discordam e vivem uma realidade totalmente diferente daquela o que o planalto reitera em números e afirmações. Com as raízes na crise internacional, as fábricas diminuíram significativamente a produção, desacelerando o ritmo de trabalho até a completa parada de linhas. Na sexta-feira, 21 de novembro, uma empresa fabricante de carregadores de celular fechou sua principal linha de montagem. Os 400 funcionários demitidos são vítimas da crise econômica mundial.
O consumidor, no mundo inteiro e principalmente no exterior, com medo do gasto pesar muito no bolso , resistiu ao desejo de comprar novos e potentes aparelhos celulares com medo do gasto pesar muito ao bolso. Entretanto, essa mudança de prioridades nas compras desestrutura uma pirâmide de postos de trabalhos que dependem das vendas dessas “frivolidades’’. A redução da demanda diminui a produção de aparelhos e de acessórios, como os carregadores. Dificilmente esses trabalhadores demitidos serão reinseridos no mercado de trabalho. Afinal, as Apesar das 500 indústrias com sede na região tem caráter exportador e estão , todas são dependente da economia mundial reduzindo drasticamente seu quadro de funcionários. pelo seu caráter exportador.
O vínculo meramente trabalhista das multinacionais, elas usufruem da mão de obra local mas não do comércio nacional, fragiliza a economia amazônica, que fica a mercê da saúde financeira do globo. É necessário um novo modelo econômico para a região. A zona franca tem data específica de término, 2033, quando o governo federal pretende não abonar mais os impostos fiscais. Essa data, para muitos, significa a desertificação da região. Empresas como Siemens, Philips, Honda, Nokia e Semp-Toshiba se deslocarão para locais onde as vantagens produtivas existaem. Enquanto isso não acontece, os trabalhadores já sofrem com qualquer deslize financeiro mundial e se tornam objetos do capitalismo globalizado.
A evasão mostrará que Manaus, quarto maior PIB per capta do país, segundo o IBGE de 2004, não passa de um hotel de capital dependente do setor industrial. A crise é o momento para repensar os pilares de uma floresta que tem toda a atenção midiática voltada àa natureza, mas é tão importante economicamente quanto as causas ambientais. Novas políticas desenvolvimentistas, que aliem a capacidade de produção local aos recursos naturais e desvinculem o trabalhador das multinacionais, são essenciais para a sustentabilidade amazônica. Manaus espera, ansiosamente, por menos descaso nacional com sua economia e pela reforma no sistema falido de geração de emprego.

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