Às 9h30, o plenarinho da Assembléia Legislativa se tornou palco de uma discussão muito conhecida por parte dos jornalistas: a necessidade da formação acadêmica. Estiveram presentes na mesa de debates o vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) Celso Augusto Schröder, o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) Antônio Hohlfeldt, o diretor do Departamento de Ensino da ARI e do Departamento de Comunicação da UFRGS, Mario Rocha, o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS, José Maria Rodrigues Nunes, o presidente da CUT/RS, Celso Woyciechowski, além dos deputados Frederico Antunes e Marisa Formolo.
Desde a regulamentação como profissão, em 1969, há divergências a respeito da validade da exigência de diploma para exercer a profissão. Celso Schröder, vice-presidente da Fenaj, afirma que a discussão começou nos meados dos anos 70, com a empresa jornalística Folha de São Paulo. A organização considerava ilegítimo o diploma por uma questão puramente financeira, conforme Schröder: "Pretendendo baixar os custos da sua folha de pagamento, a Folha começa pregar a desregulamentação da profissão." Antonio Hohlfeldt afirma que a crescente divulgação na mídia dos problemas entre os políticos pode pesar na avaliação do caso do Supremo Tribunal Federal: “O que tem incomodado muito a eles é a denuncia das corrupções nos Poderes, sobretudo no Judiciário”. Gilmar Mendes, presidente do STF, mantém o julgamento do recurso na gaveta e disse que vai avaliar pessoalmente o caso.
Schröder complementa que quem ganha com a perda do diploma são as corporações. "Os donos dos jornais decidirão quem é jornalista. Escolherão de acordo com o preço e os seus interesses particulares", prevê. O diretor do Departamento de Ensino da ARI e da UFRGS, Mario Rocha, ressalta que "fazer jornalismo não é participar de um negócio da comunicação" e a deputada e diretora da Comissão, Marisa Formolo, reforça que "aceitar a desentitucionalização é aceitar a mercantilização da profissão".
A maioria dos parlamentares presentes demonstrou desconhecimento da causa até o presente instante. Entretanto, após o debate, a conscientização da relevância da formação foi unânime. O deputado Frederico Antunes apoiou a causa e sugeriu uma maior divulgação para o entendimento de todos. "Se o senhor não se apropriou da causa, imagine a sociedade como um todo!", reclamo uma jornalista da platéia.
A única que expôs idéias a favor da desregulamentação foi a presidente da Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação Social (Enecos), Marília Cancelli. Ela afirmou que a obrigatoriedade não assegura melhores salários ou formação ética. Apesar de não concordar com a maioria, Cancelli solicitou que "que seja pautado no documento a qualidade de ensino, a ética e responsabilidade profissional". O presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, José Maria Nunes, rebateu Marília afirmando que, no fundo, ela também era a favor do diploma, afinal “não é somente uma defesa coorporativa da profissão, mas da qualificação”.
A audiência termina já com propostas de novos encontros. Mario Rocha sugeriu uma reunião sobre o mesmo tema na ARI, com a participação dos estudantes, e o deputado Frederico Antunes sugeriu que a Assembléia Legislativa promovesse uma audiência para discutir as concessões na comunicação e os poderes cruzados, que, na sua visão, revelam os reais conflitos de poder nas comunicações.
Matéria publicada na CYBERFAM